16 de Julho de 2019

Cinco países africanos inspiram-se no Conselho da Diáspora Portuguesa para criarem redes de influência

Após a 2ª edição do EurAfrican Forum foi anunciado que alguns países africanos vão criar Conselhos da Diáspora inspirados no modelo português. Angola, Etiópia, Guiné-Bissau, Moçambique e Nigéria são os países que estão a preparar o lançamento das suas próprias redes de influência.

O Presidente do EurAFrican Forum, José Manuel Durão Barroso, disse durante o evento que “África precisa de investimento” e que “temos de encontrar novas formas de atrair investimento de longo prazo para África, superando barreiras em termos de compliance [respeito pelo que está legislado]. Durão Barroso disse acreditar que “África poderá ser o maior mercado do mundo”.

Já Filipe de Botton, presidente do Conselho da Diáspora Portuguesa, vê uma grande oportunidade na abertura e facilitação do comércio entre os dois continentes. “A visão é criar uma área de comércio livre entre a Europa e a África”, disse. O empresário acredita que essa união será possível fazer frente aos dois grandes blocos: China e Estados Unidos. Botton adiantou que “em 2012, quando foi criado o Conselho da Diáspora Portuguesa, queríamos saber o que poderíamos fazer para trazer prosperidade a Portugal. A resposta foi: dar poder à diáspora. A nossa missão hoje é motivar os países africanos a criar o seu próprio Conselho da Diáspora”.

Para Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, “conectar a Europa e África não é uma opção, mas uma obrigação”. O autarca defendeu ainda que “temos uma ligação a África: estamos unidos pelo sangue, pelo sentimento e pela língua, no caso de Portugal, bem como pelo Atlântico”. “Diz-se que este é o século de África e talvez o da Europa, mas porque não o século de Portugal com a África?”, questionou. Presente nesta iniciativa esteve o Presidente da República de Moçambique, que pediu casas para a população afetada pelas recentes catástrofes naturais que assolaram o país.

Filipe Nyusi foi direto e disse “precisamos de acomodação”. “Não precisamos muito de comida, mas mais da semente. O pescador precisa de anzol, não precisa do peixe”. O evento contou com o Alto Patrocínio da Presidência da República, e Marcelo Rebelo de Sousa não faltou. O Presidente afirmou que “há hoje uma expectativa em relação ao novo ciclo em Moçambique. As empresas portuguesas estão muito empenhadas no investimento em Moçambique – mar, energia, turismo, infraestruturas”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português sublinhou que a Europa tem um problema de défice demográfico e África vai triplicar a sua população ao longo deste século. “Há uma complementaridade demográfica entre Europa e África”, concluiu Augusto Santos Silva. Mas esta relação, defendeu, “apenas pode ser ativada através de migrações reguladas, seguras e regulares”. Como deve ser a relação da Europa com África? Deverá ser uma relação “o menos assimétrica possível, mais de investimento do que de ajuda”.

António Vitorino, o diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), disse que “as migrações podem contribuir para o desenvolvimento dos países de origem e destino”. E defendeu que “a política de migrações é prioritária para a União Africana: 80% dos africanos que migram fazem-no dentro dos países africanos. Para fora de África vão 20%, principalmente para a Europa”.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, deixou uma mensagem de vídeo, destacando o contributo dos migrantes, que “podem trazer benefícios para os países de origem e de destino”. Disse ainda que as Nações Unidas continuam a aprofundar parcerias e a trabalhar em conjunto com África que “poderá estar na liderança do investimento e da inovação”.

Koen Doens, da Direção-Geral da Cooperação e Desenvolvimento Internacional da Comissão Europeia, disse que “está a surgir um novo modelo de parceria entre Europa e África”. A colaboração baseia-se na partilha de valor e na construção da prosperidade. “O setor privado é hoje o ator principal em África”, reforçou.

Kim Kreilgaard, o responsável em Portugal pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), explicou que Fundo Europeu de Investimento (FEI), detido pelo BEI, tem um programa dirigido a projetos em África para “financiar fundos de capital de risco” e ajudar a construir ecossistemas de capital de risco em África. “Queremos atrair investidores para criar as equipas certas e suportar as startups”.

Por Dinheiro Vivo e Conselho da Diáspora Portuguesa, Julho de 2019