6 de Dezembro de 2019

Rubrica na revista Executive Digest – Conduzir grandes marcas

A maior parte da sua carreira foi dirigida na indústria automóvel, onde assumiu diferentes posições de liderança. Carlos Gomes ocupa a vice-presidência do grupo PSA na China desde 2018, início da primeira e maior crise do mercado chinês dos últimos 25 anos.

Um mercado cinco ou seis vezes maior do que o anterior que liderava e o maior da indústria. Carlos Gomes passou da operação nos países latino-amercianos, onde estava desde 2010, para os comandos na China. Antes da PSA Peugeot Citroen, juntou-se ao Grupo Fiat em 1998, tendo passado pela presidência da Fiat França, Espanha e a região da Europa do Sul ao longo de 12 anos. Mas a sua carreira teve início em 1988 na Citroen Portugal. Posteriormente, assumiu posições de destaque na Renault.

Conseguiu reverter anos de prejuízo em França e na América Latina, liderou o maior plano de investimento da PSA no Brasil, tirou a PSA na América Latina de um construtor que acumulava resultados negativos ano após ano e melhorou o desempenho das marcas do grupo – Peugeot, Citroen, Opel e DS – na Ásia. Em 2018 estava a pisar a China. Assim que chegou, foi necessário responder rapidamente ao contexto. As medidas tomadas foram difíceis mas fizeram o mercado chegar a melhores resultados. Agora, tem em marcha novas plataformas multienergia que oferecem a possibilidade de construir carros térmicos ou LEV na mesma fábrica e na mesma linha, reduzindo custos de investimento e melhorando a resposta em termos de distribuição. A face visível da estratégia são os novos modelos elétricos com o Peugeot 208 e DS3 Cross-back E-tense à cabeça e brevemente a nova geração de híbridos que permitirá oferecer o 3008, o 508, o DS7 e o Citroen C5 Aircross que farão com que o Group PSA responda, em pleno, à nova regulamentação sem pagar penalidades e aumentando a vantagem.

O QUE DIZ CARLOS GOMES…

É um dos decanos portugueses da indústria, por isso é natural ouvir dizer-lhe que o carro do futuro vai ser “apaixonante”. Aos 54 anos, está confiante com a transformação da indústria automóvel e com o seu futuro.

Realizou a maior parte da sua carreira na indústria automobilística e mais particularmente na Renault e na Fiat, nas quais ocupou diferentes cargos de direcção. Quais os principais ensinamentos? 

A capacidade de adaptação, uma mentalidade sem tabus e uma capacidade de execução sem falhas são ferramentas indispensáveis no negócio automóvel. Mas se tivesse que selecionar um tema fulcral seria sem dúvida a construção de talento sem a qual um executivo pura e simplesmente não existe. Para além de tudo adoro pessoas e tenho o maior prazer em ver pessoas de talento crescer e vingar, nada me dá mais satisfação.

Mas o futuro do automóvel vai ser eléctrico ou conectado? 

Ambos, para além dessas duas rupturas tecnológicas acrescentaria a condução autónoma que vai chegar em força, acrescentando ainda mais interesse ao sector.

O que perspectiva como as grandes mudanças no sector?

Passam de facto pelo crescimento do mix dos Light Emission Vehicles, da adopção da conectividade e do personal assistant on-board e, enfim, a tecnologia ligada ao autonomous driving que vai mais uma vez mudar paradigmas, possibilitando uma utilização mais intensiva do automóvel e a criação de novos negócios.

E dos trabalhadores chineses?

Diligentes, com forte atenção aos detalhes e capazes de funcionar em equipa. Muito bons em ambiente industrial e com forte standardização, maior dificuldade em ambientes de mudança acelerada ou de necessidade de afirmação do indivíduo versus o grupo.

O que deve ser desmistificado na indústria automóvel?

O mais evidente e o que diz respeito à rentabilidade do sector com a maior parte das pessoas a pensar que as empresa autómoveis fazem lucros invulgares. Nada de mais errado pois o sector apresenta margens médias em torno dos 5%, o que para um sector que envolve investimentos que se contam por biliões e risco elevado é muito pouco. Talvez por isso mesmo empresas com cash quase ilimitado como a Google ou a Apple abandonaram os seus projectos automóveis….

Peugeot é uma marca de clássicos ou de modernidade?

Ambas, só assim uma Marca que tem mais de 200 anos e que tem na história clássicos como o 504 ou o 205 pode continuar a apresentar sucessos que se repetem como os actuais SUV 3008 e 5008 e apresentar o novíssimo 208 que conta com a sua versão eléctrica e que será sem dúvida um êxito comercial.

Qual é o segredo da marca?

A capacidade de aliar emoção e razão através de um design ímpar, um handling único e uma concepcão do cockpit automóvel que a distinguem das suas concorrentes. O novo claim da marca “Unboring the future” serve de direcionamento para o trabalho das equipas da marca. No Grupo PSA, marcas míticas como a Citroen e a Opel, ou a nova marca premium DS apresentam igualmente muitos e fascinantes modelos.

Qual é o seu papel enquanto conselheiro da Diáspora Portuguesa no mundo?

Contribuir para a afirmação de Portugal e a sua confirmação enquanto País, cultura e povo são motivações únicas e mais que suficientes. Dar a conhecer Portugal e as suas múltiplas dimensões num mundo cada vez mais competitivo e acelerado é um prazer sem fim.

Por Executive Digest, Dezembro de 2019