4 de Janeiro de 2023

António Calçada de Sá: “Somos um povo de enorme capacidade, mas temos de largar o bota-abaixo”

Conselho da Diáspora acaba de lançar um fundo de 50 milhões para ajudar empreendedores em Portugal e renova-se para potenciar ligações além-fronteiras.

Com o alto Patrocínio do Presidente da República e com presença do novo presidente do Advisory Board do Goldman Sachs, José Manuel Durão Barroso, entre outros notáveis, 75 conselheiros da diáspora portuguesa vieram nesta semana de mais de 30 países para mostrar que “não basta jogar bem. É preciso chutar à baliza”. E esta, que foi uma das mensagens mais recordadas nos dois dias de reunião na Cidadela de Cascais, materializou-se num passo importante: o lançamento de um fundo de investimento de 50 milhões de euros, fruto de um protocolo com a Portugal Ventures, para apoiar o ecossistema empreendedor em Portugal.

“Queremos que a Rede Mundial da Diáspora apoie com a sua capacidade de investimento o Ecossistema de Inovação e Empreendimento em Portugal”, justifica António Calçada de Sá, explicando que isso passa por apoiar “startups no campo da Tecnologia Industrial, Digitalização, Saúde e Turismo, empresas jovens e que precisam de músculo financeiro para crescer”. “Estamos a falar de investimentos aparentemente modestos, de 1 ou 2 milhões, mas dirigidos a empresas em fase de crescimento e que já sejam comerciais.”

Ao DV, o diretor executivo do Conselho da Diáspora Portuguesa e vice-presidente da Fundación Repsol conta que esse passo faz mais sentido depois de ouvido o testemunho de pessoas que tiveram ou têm ainda cargos internacionais do maior relevo na política e nas empresas, empresários e empresárias, até unicórnios, cujos testemunhos chegam do mundo da academia, da ciência, da arte e da cultura, coincidindo na ideia de que precisamos de maior rapidez e velocidade de execução no país. “Temos talento interno, mas temos de apoiá-lo, temos startups interessantíssimas no campo da inovação, mas há que arriscar e apoiá-las com financiamento, precisamos de ajudar as nossas empresas a sair em busca de novos mercados e realizar mudanças no ensino de forma a incentivar o caráter empreendedor dos nossos jovens”, defende Calçada de Sá, sublinhando que “somos um povo com enorme capacidade de aprender, de adaptação, mas temos de abandonar o derrotismo e o bota-abaixo”.

Considerando que, apesar de ser um país de tradição emigrante, Portugal ainda dá pouca atenção à sua diáspora, o responsável dá pistas sobre como se pode e deve tirar maior partido desse valor espalhado pelo mundo. “É exatamente o que estamos a fazer com a nova estratégia e que passa, em primeiro lugar, por ligá-los a todos; a plataforma All in One serve para isso, é uma rede mundial online que permite saber quem é quem, em que continente está , o que faz e o que gostaria de fazer por Portugal e pelos portugueses.”

A razão é simples: quanto maior amplitude e mais diversidade existir, mais ágil será a canalização de investimento para Portugal, seja recorrendo a parcerias ou alianças nas diversas áreas dentro e fora do país. “O fundo serve para isso, o programa Erasmus+ Diáspora também.”

Num encontro em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, realçou o momento “muito emocional” que o país está a viver e a necessidade de mudança e de vontade entre os portugueses, o Conselho da Diáspora também se propõe contribuir para esse desígnio. “A nossa missão e propósito é precisamente ajudar Portugal. Temos portugueses e portuguesas nos cinco continentes que já se mostraram prontos para ajudar o país, com vontade de o fazer. E a melhor forma de impulsionar uma mudança é saber liderá-la pelo exemplo”, lembra António Calçada de Sá, realçando os “exemplos vivos” que se encontram nas comunidades da “vontade de vencer e da resiliência vinculada à nossa enorme capacidade de adaptação e aprendizagem”.

A cumprir ano e meio de mandato, o diretor executivo do Conselho da Diáspora faz contas ao percurso e vê um resultado muito positivo. “Tínhamos e temos uma nova estratégia para a Rede, que queremos desenvolver e consolidar, motivada e disposta a ajudar o país, moderna, forte e inclusiva. E neste momento os resultados são visíveis: lançámos a nova web para dar a conhecer a Diáspora e os seus projetos e o Erasmus+ Diáspora, para facilitar que estudantes portugueses ou lusodescendentes no estrangeiro possam frequentar cursos ou masters em Portugal e assim conhecer todo o potencial do nosso país; desenvolvemos a plataforma All in One para ligar os 135 portugueses da diáspora por regiões, setores de atividade, interesses, projetos e ter a informação constantemente atualizada (uma espécie de LinkedIn privado; assinámos um Protocolo de Colaboração com o Conselho das Comunidades para identificar novos projetos e iniciativas empresariais, académicos, científicos, sociais e culturais; e lançámos um acordo com a Associação Empresarial Portuguesa (AEP) para identificar oportunidades para as empresas (especialmente para as PME com vocação de se estabelecerem noutras regiões ou empresários que queiram voltar a Portugal com a sua atividade).”

Defendendo que os bons exemplos devem ser importados, mas também podem ser exportados, o líder da Diáspora repete que, no final, “o importante não é jogar bonito, é chutar à baliza. E marcar golo”.

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