Defensora da meritocracia, Ana Tavares, Conselheira da Diáspora Portuguesa, é quem trata das Finanças da Canon, nos EUA. Mas diz procurar também fazer o máximo por Portugal, a partir do seu lugar na Diáspora.
Ana Tavares teve uma infância feliz, marcada pelos quatro meses que passava na casa de família em Sagres (Algarve). Dias de praia alternados com o ano escolar no Externato Marista de Lisboa. “Era a caladinha que se sentava no canto”, conta-nos. Intropectiva, em criança gostava de ler Enid Blyton. Mais tarde, na adolescência, Júlio Verne, Marion Zimmer Bradley e Isaac Asimov. Os seus programas favoritos eram de ficção científica, de Carl Sagan e Jacques Cousteau. Por isso sonhou ser espeleóloga ou bióloga marinha. Formada em Contabilidade e Administração Financeira, no ISCAL, passou pela Pannell Kerr e BDO, em Lisboa, a Bristol Myers-Squibb, em Inglaterra e EUA e a Pall Corporation, nos EUA. Na sua área de especialização, os Serviços Partilhados, liderou projectos de reorganização na Ásia, Europa e Américas.
Aos 45 anos, trabalha numa marca registada em mais de 200 países, com 197 mil colaboradores no mundo. Na Canon, há seis anos, tem responsabilidades regionais pela Tesouraria, Impostos, Consolidação de Contas, Contabilidade e Serviços Partilhados, e Sistemas Financeiros.
O QUE DIZ ANA…
A fotografia tem um papel importante na sua vida?
Imagem e fotografia têm um papel central na sociedade em geral. O ritmo tem acelerado de forma vertiginosa. Quando o Homem foi à lua, precisamente cinco fotos foram tiradas ao Neil Armstrong, hoje em dia um trilião de fotos são tiradas por ano. Através desse meio podemos contar histórias, comunicar emoções. “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Que tal um desafio: fazer o 365 foto challenge?
Que fotografias nunca deixa de tirar?
A nossa inclinação é tirar fotos de momentos divertidos, sítios únicos, certamente é o meu caso. No entanto, as fotos que mais apreciamos têm a ver com épocas da nossa vida, com rituais diários. Gostava imenso, como exemplo, de ter uma foto do apartamento em que vivi em Inglaterra, mas não tenho. Nem sempre as fotos que quero tirar são as que mais tarde vou dar mais valor.
Na Canon de que forma é notória a cultura japonesa?
É sublinhada a ideia de que a sociedade e organizações são intemporais, com o privilégio e a obrigação de contribuir para um mundo melhor. Sobretudo através da ideia de que o trabalho e ações de hoje devem beneficiar gerações futuras. Se tiver curiosidade em explorar mais, a Harvard Business Review publicou um artigo muito interessante: “The Path to Kyossei”.
E o que tem imprimido de “português” na sua forma de gestão e de estar?
Os Portugueses trazem um imenso engenho, uma enorme capacidade de fazer muito com pouco, um estilo de aprendizagem descobridor, heurístico. Este skillset pode ser aplicado numa variedade de situações: investimento em digitalização; desenvolvimento de serviços partilhados; economia de recursos em parcerias; entender o consumidor final; entender e influenciar o contexto regulatório. O melhor de mim é Português: a formação académica, as bases profissionais, a curiosidade, e um sotaque que está para ficar.
Já trabalhou na Europa, na Ásia, América Latina e nos E.U.A., quais foram as principais aprendizagens com a forma de trabalhar e a cultura de cada continente?
Existe o lado de cultura corporativa e a influência da cultura do país de origem. Recém-chegada a Inglaterra fiquei surpreendida por coisas como: o dia começar bem cedo e, em geral, acabar mais cedo; o trabalho ter menos pausas durante o dia; o respeito pela hora de chegada; a formalidade em reuniões, sendo as mesmas bastante estruturadas; a informalidade no tratamento entre colegas. No trato, o uso do primeiro nome, passando-se o mesmo na chefia. A progressão de carreira é clara e definida. Apesar destas e outras diferenças, a maior lição aprendida foi a de que o sistema académico Português proporciona uma preparação bem acima da média.
Nos EUA a energia é direcionada para uma dedicação vigorosa ao trabalho “work ethic”, e o recarregar de baterias é dividido entre família e causas comunitárias. Ao contrário de um estado social – como Portugal – nos Estados Unidos a segurança social e a figura jurídica de contrato de trabalho são quase irrelevantes. Maior risco, mas maior flexibilidade. Cabe a cada individuo gerir a sua reforma, mais estruturada em fundos privados e menos em segurança social. Contratos de trabalho raramente são utilizados. Na maioria dos casos um colaborador está numa empresa ‘at will’, podendo sair quando quiser e podendo, também, ser “dispensado” a qualquer altura. A disposição em assumir este tipo de riscos, em sacrificar férias longas, ter uma boa preparação académica, experiência numa determinada área, um desempenho consistente e dedicado, paga dividendos após uns anos.
Diria que são os Estados Unidos da América o país onde mais gostei de trabalhar até hoje. Identifico-me com o culto de meritocracia acentuado na relação causa/consequência. Gostei também muito de trabalhar em Inglaterra e Singapura. Para mim, tendo já trabalhado na Europa, na Ásia, América Latina e nos E.U.A., saliento o desafio fascinante que é o da gestão das diferenças culturais que existem em equipas que se encontram em países diferentes, para além da barreira da linguagem, obviamente. Por outro lado, trabalhar com a América Latina provou ser o desafio maior, uma vez que a sua cultura de trabalho é alicerçada em relações interpessoais onde o favoritismo e o interesse próprio prevalecem, o que requer tempo. Ou seja, em vez de se mergulhar de cabeça no trabalho que tem de ser executado, há que, primeiramente, dar uns passos atrás ou ao lado para se conhecer melhor os colegas envolvidos nesse trabalho.
Que papel enquanto conselheira da Diáspora Portuguesa?
Portugal deu-me as bases com que opero no dia-a-dia. Procuro fazer o máximo pelo meu país, onde quer que esteja, com o que possa. Atualmente faço parte da direção da Câmara de Comércio de Portugal em Nova Iorque, e da Direção do Conselho da Diáspora Portuguesa. Trabalhei recentemente em establecer uma parceria entre o Conselho da Diáspora Portuguesa, e a Câmara de Comércio. Como objectivo pessoal, a cada par de anos, organizo e patrocino um jantar que junta líderes locais com membros da Câmara de Comércio Portuguesa em Nova Iorque. É um evento por convite, o evento deste ano ocorreu em Maio.
Por Executive Digest, Setembro de 2019