15 de Fevereiro de 2023

Conselheira Manuela Ferro: VP World Bank em Visita Oficial a Timor-Leste

Manuela Ferro, VP World Bank e Conselheira da Diáspora, concluiu no dia 15 de fevereiro uma visita a Timor-Leste, durante a qual contactou, com o Governo, Presidente da República e setor privado, reforçando a necessidade de investir e melhorar o setor educativo e o capital humano.

A vice-presidente do Banco Mundial considerou hoje que reforçar e melhorar o setor educativo e o capital humano é a “grande prioridade” para Timor-Leste, sendo essencial para o fortalecimento institucional e o desenvolvimento do país.

“Se olharmos para os últimos 20 anos, vemos melhorias na esperança de vida, melhorias no estado de saúde da população, melhorias em rendimentos, reduções em mortalidade infantil, mas pouco progresso na educação e esse é o grande desafio”, disse em entrevista à Lusa Manuela Ferro, responsável pela região do Leste Asiático e Pacífico no Banco Mundial.

“Timor-Leste gasta muito em educação, possivelmente grande parte em salários, mas a questão é se as crianças estão a aprender? Penso que esse vai ser o grande desafio para o país. O capital humano é crucial e requer um consenso político e na sociedade. É difícil construir instituições com uma força laboral que tem qualificações limitadas”, vincou a portuguesa.

Manuela Ferro conclui hoje uma visita a Timor-Leste, durante a qual contactou, entre outros, com o Governo, Presidente da República e setor privado.

“Uma criança em Timor-Leste, mesmo que passe oito ou nove anos na escola, o seu nível de aprendizagem é equivalente a quatro quando convertido para resultados de aprendizagem. O que equivale á escola primária”, notou.

“Quando falamos com o setor privado aqui, dizem-nos que as qualificações de base são fracas e por isso a educação e a formação têm que ser reforçadas, trabalhando tanto com as crianças como com os adultos”, acrescentou.

Neste quadro, Manuela Ferro sublinhou que é essencial fortalecer a nutrição no país, melhorar a metodologia, qualificações e conhecimento dos próprios professores e deu como exemplo as melhorias alcançadas pelo país na área da saúde.

“Se fizer um esforço concertado na educação, atacando as questões como atacou no setor da saúde, isso faria uma diferença muito grande”, considerou.

Outro dos fatores que pode contribuir para o reforço do capital humano do país é tanto a imigração como os processos de crescente integração regional, nomeadamente o processo de adesão em curso à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

Manuela Ferro diz uma maior integração de Timor-Leste na região “é um bom objetivo”, especialmente para uma economia pequena, com uma população jovem e que precisa de diversificar a economia.

“Para fazer isso precisa de conhecimento, tecnologia, de importação e exportação livres e de reforçar as suas conexões. Acesso à ASEAN e à OMC é muito bom e encoraja algumas conversões no enquadramento legal de comércio, com a comunidade e economia globais”, notou.

“Em termos de capacidade é exigente, tudo isto é. Mas outros países que se juntaram à ASEAN também começaram num contexto de capacidade mais reduzida. É algo que também dá direções e objetivos nacionais. Nem tudo funcionará de forma imediata, mas essa conversão e integração é positiva, especialmente numa altura de diálogo entre grandes blocos e da ASEAN sentir que também quer ter uma voz”, argumentou.

Com a economia timorense ainda estagnada e pouco diversificada, e elevadas taxas de desemprego juvenil, nos últimos anos, a mão-de-obra tornou-se a principal exportação nacional, com as remessas dos imigrantes a assumirem um papel importante na economia de milhares de famílias.

Ainda que esse cenário possa, em alguns aspetos, levar a situações de `fuga de talentos`, Ferro sustenta que a mobilidade laboral pode trazer benefícios, ajudando a fortalecer as qualificações e experiência da população timorense.

“Qualquer economia que quer crescer precisa de importar conhecimento e tecnologia que não tem, e exportar, por vezes temporariamente, trabalhadores, que adquirem qualificações e experiências”, disse.

“Sei que Timor-Leste está a falar com vários países em vários pontos do mundo para implementar programas de migração que podem ajudar a ter acesso a formação superior, conseguir experiencia. E a imigração pode ser benéfica para os dois lados, para os países que recebem e para os países que exportam”, relembrou.

Manuela Ferro apontou o envelhecimento da população em vários países, e as carências de mão-de-obra para suster essas economias, e relembrou que a população predominantemente jovem de Timor-Leste pode beneficiar disso, tanto para reforço de qualificações como para enviar remessas para o país.

“Esta questão também faz parte do processo de Timor-Leste se integrar mais no mercado global e isso trará benefícios ao país. Muitos timorenses que voltam, por exemplo, abrem negócios, inovam, trazem diferentes conhecimentos e as remessas, o que é positivo”, disse.

Relativamente ao contexto económico do país, e quando se discute o futuro desenvolvimento do projeto do Greater Sunrise — que pode ser essencial para as receitas públicas nacionais nas próximas décadas — Ferro relembra o paradoxo dos recursos.

“Esses recursos naturais — e há muitos estudos sobre a maldição dos recursos naturais — dão rendimento, mas não garantem desenvolvimento. Podem dar desenvolvimento se for decidido investir-se de forma inteligente na população e usando esses recursos para construir atividades sustentáveis a longo prazo que criem emprego e diversifiquem a economia”, disse.

“Alguns países têm tido dificuldades em fazer isso e outros não. Espero que em Timor-Leste corra bem. O país tem a sorte de ter esses recursos e a questão é garantir que os recursos são bem usados para fomentar esse desenvolvimento”, vincou.

Outra questão crucial é a de fragmentação de apoio externo, o que por vezes ocorre no país, sendo, em alguns casos, é consequência da necessária transição de “uma agenda humanitária pós-conflito para uma agenda de desenvolvimento”.

“Isso requer que o Governo defina as suas prioridades e lhes dê seguimento, ser mais direcionado. Para nós, no Banco Mundial, essa é uma forma mais eficaz de avançar, porque assim se alinha com a capacidade institucional focada e isso permite que se faça mais”, afirmou.

Consulte a notícia original aqui.