Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.
1- O que o levou a sair de Portugal?
A ambição de me tornar um melhor profissional e abrir os meus horizontes, tanto a nível pessoal como profissional.
Sempre acreditei que aprendemos imenso quando somos expostos a diferentes culturas de trabalho e diferentes métodos de trabalho.
Assim sendo, quando fui convidado para participar num programa que tinha como objetivo identificar e moldar futuros diretores do Banco Santander, não hesitei em aceitar o desafio.
O programa teve a duração de três anos e passei por dois países diferentes: estive em Espanha e Inglaterra, e atualmente já estou há 16 anos fora de Portugal.
2- Que vantagens ou desvantagens lhe trouxe o facto de ser português?
Na minha experiência, há uma coisa em que somos únicos: capacidade de conseguirmos sempre atingir o resultado pretendido, independentemente das condições. A nossa capacidade de ‘desenrascar’.
Isto é algo que não vejo noutras culturas – temos uma atitude muito positiva e uma capacidade de adaptação a qualquer mudança que se destaca.
Adicionalmente, considero que humildade e capacidade de trabalho são qualidades comuns à maioria dos portugueses, seja qual for a área de trabalho, e grandes vantagens.
Juntamente com estes fatores, a nível pessoal, somos bastante cosmopolitas e, por sermos um povo de brandos costumes e respeitador, funcionamos muitas vezes como uma “ponte” que liga pessoas de diferentes nacionalidades em nosso redor. Esta é a maior vantagem de ser português.
A única desvantagem que vejo está ligada à nossa humildade intrínseca – por vezes sentimo-nos inibidos de sermos os melhores. O Cristiano Ronaldo nesse campo é um autêntico professor e inspirador “devemos sempre achar que somos os melhores no que fazemos”.
3- Que obstáculos teve de superar e como o fez?
Para mim, os grandes obstáculos foram a nível pessoal – o mais difícil sempre foi estar longe da família e amigos, e não ter o sol de Lisboa.
Para superar esta realidade, viajo para Portugal com frequência e tento manter-me o mais próximo possível da nossa cultura: só falo português em casa com a minha mulher e os meus filhos, vemos televisão portuguesa, frequentamos restaurantes portugueses e sigo religiosamente o Sporting.
A nível profissional, trabalhar com uma língua que não era a minha também foi, e ainda é, por vezes complicado. Particularmente a parte técnica, já que adquiri o meu conhecimento numa universidade portuguesa e iniciei a minha carreira em Portugal. Para me desenvolver a este nível, estudo muito e tento ler o mais possível para desenvolver o meu inglês técnico.
4- O que mais admira no país onde está?
Na minha opinião, a história e cultura de Inglaterra são fascinantes.
A nível económico, é incrível como este país se desenvolveu numa ilha, com um clima bastante agreste, e é uma das grandes potências mundiais.
Acho fascinante a cultura, em diversas áreas.
Por exemplo, admiro imenso os hábitos que têm em relação à vida exterior: cá, faça sol ou faça chuva, faça calor ou frio, as crianças estão nos parques, as pessoas caminham e aproveitam a bela Natureza que este país oferece.
A diversidade e inclusão também é uma área que admiro: aqui há pessoas de todas as nacionalidades e etnias, e todos se respeitam.
Na verdade, o respeito que as pessoas demonstram umas pelas outras e a forma organizada como fazem as coisas é exemplar.
5- O que mais admira na empresa ou organização onde está?
Acima de tudo, a dinâmica de crescimento.
É incrível estar numa organização como o Banco Santander, que todos os anos cresce e muda para melhor.
E esta dinâmica não se reflete apenas nos planos de negócios, mas também a nível das pessoas que fazem parte da família Santander.
As oportunidades que são dadas a pessoas que se destacam, independentemente da idade, orientação sexual, identidade de género ou nacionalidade, também é algo único. É na verdade o que me faz ficar no mesmo Banco, ano após ano.
Em Inglaterra é comum mudar de emprego cada 3 ou 4 anos, mas eu nunca tive essa vontade, porque sempre me foram dadas oportunidades de crescimento e progressão na carreira internamente.
6- Que recomendações daria a Portugal e aos seus empresários e gestores?
Para aumentar a produtividade, temos de ter pessoas motivadas e pagas justamente; por isso, considero que os salários deviam ser ajustados para refletir o valor que cada um acrescenta para o seu empregador.
Adicionalmente, o bom trabalho também deve ser reconhecido com aumento de responsabilidade e progressão na carreira. Tenho conhecimento pessoal de profissionais que se formaram em Economia há mais de 15 anos e têm exatamente as mesmas funções hoje, como no dia em que começaram a trabalhar. Todos os profissionais têm necessidade de crescimento, de não se sentirem estagnados, para se manterem motivados.
Temos excelentes profissionais que têm de procurar oportunidades fora de Portugal para serem mais valorizados e poderem crescer profissionalmente. Temos excelentes jovens com uma preparação académica incrível que estão a sair do país para conseguir um bom nível de vida e se sentirem verdadeiramente valorizados na carreira.
Parece-me urgente que o país tome medidas que possam ajudar a reter o talento e aumentar a produtividade.
7- Em que setores do país onde vive poderiam as empresas portuguesas encontrar clientes?
Na minha opinião, Portugal deve focar-se nas áreas em que já tem produtos de extrema qualidade e expandir, tanto a nível de exportações, como a nível de parcerias.
Por exemplo, temos uma indústria têxtil formidável! Já há lojas aqui, todas de excelente qualidade, que fabricam tudo em Portugal. Há muito espaço nesta área para gerar parcerias.
Outro exemplo que me vem rapidamente à cabeça são os vinhos. O nosso vinho é muito superior ao vinho mediano vendido cá, mas é difícil encontrar e é vendido a preço premium. Esta é uma área que facilmente pode ser explorada.
Assim como a fruta. Em Portugal sabemos que a fruta nacional é superior à importada. No entanto, aqui só vemos à venda essa mesma fruta importada e é muito difícil encontrar produtos de origem nacional. Mais uma área em que seria fácil encontrar clientes.
A nível de negócios que vingariam em UK, acredito na restauração. Vários restaurantes de portugueses de qualidade têm aberto em Londres e acho que poderíamos ter mais. Todos os ingleses (e são muitos) que conheço e são expostos à culinária portuguesa, adoram!
Para profissionais individuais, acredito que empresas na área de serviços e construção beneficiariam dos nossos profissionais. A nossa formação é acima da média e a nossa capacidade de fazer um bom trabalho e acrescentar valor iam-se destacar.
8- Em que setores de Portugal poderiam as empresas do país onde vive querer investir?
Claramente a área do turismo é um must! O turismo é sem dúvida o elemento pelo qual Portugal é mais conhecido. A começar pelo Algarve, a passar por Lisboa e a terminar no Porto.
Simultaneamente, acho que estamos muito à frente nas Energias Renováveis, Tech Start-ups e Agricultura / Agronegócios.
Temos, ainda, bastantes empresas internacionais cada vez mais a investirem no sector dos serviços em Portugal e aqui talvez seja a área mais relevante a ser explorada no futuro. A nossa localização geográfica, infraestruturas, capacidade linguística e preparação profissional são fatores que nos dão uma forte vantagem competitiva relativamente a outros países.
9- Qual a vantagem competitiva do país em que vive que poderia ser replicada em Portugal?
Portugal tem de evoluir no sentido de ter uma cultura muito mais respeitadora da vida pessoal do trabalhador. Sei que ainda há um caminho a percorrer neste sentido, mas também conheço empresários portugueses que estão a mudar o ‘chip’.
Em Inglaterra, há uma liberdade maior do trabalhador. As minhas equipas organizam as suas horas de trabalho, desde que entreguem os resultados pedidos, e posso-lhe garantir que o fazem ano após ano de forma excecional. Em todo o lado, há que responsabilizar as pessoas pelas suas tarefas. Cada pessoa deve procurar o brio profissional, entregar o melhor.
Posso dar o meu exemplo. Nunca estou em casa depois das 19h30m (se não estou a viajar), pois faço questão de jantar em família. Isto significa que todo o meu dia é extremamente organizado e metódico. Ninguém questiona as minhas horas e antes dos 30 anos já era Managing Director (MD).
10- Pensa voltar a Portugal? Porquê?
Sim, não só penso como voltarei.
Acho que somos um país com uma qualidade de vida fenomenal para quem tenha capacidade financeira. Adorava terminar a minha carreira em Portugal.
Gostava, por exemplo, que os meus filhos trabalhassem em Portugal, onde se aprende muito e onde somos levados a ser super-criativos, flexíveis e destemidos como profissionais.
Foi uma “escola” fabulosa a que tive quando trabalhei em Portugal e acho que teria agora valor como “professor” para jovens profissionais, por exemplo.
De qualquer modo, se não for profissionalmente, seguramente que a minha reforma será passada na zona da Praia Verde, no Algarve!
Consulte a entrevista original aqui.