Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão as oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.
1. O que o levou a sair de Portugal?
Durante a minha formação académica, tive a oportunidade de participar em várias associações internacionais e talvez por esta razão me sentisse atraído por novos horizontes, outras culturas, que despertaram a curiosidade de viver e trabalhar fora de Portugal. Isso só foi possível por ter ao meu lado a minha mulher, que foi um incentivo muito grande para encarar todos as oportunidades e adversidades, uma vez que sempre partilhou a mesma visão e que, igualmente, também aspirava uma carreira internacional.
2. Que vantagens ou desvantagens lhe trouxe o facto de ser português?
Considero que ser português é relativamente fácil, já que somos bem aceites em todas as regiões do mundo, com algumas exceções, eventualmente, nos países com os quais partilhamos história, onde chegam a existir alguns estereótipos instituídos.
Em países como o México, considero que existe um carinho e um interesse genuíno pela nossa cultura, o que facilitou em muito a integração. As desvantagens que existem não se prendem com a nacionalidade, mas sim com o tamanho das comunidades portuguesas em países não tradicionais da diáspora, o que leva a que seja mais difícil viver a nossa cultura e costumes com maior profundidade. Ajudar empresas e empresários portugueses a prosperar entre si de maneira rápida é, igualmente, dificultado por este aspeto.
3. Que obstáculos teve de superar e como o fez?
Tendo em conta que os 13 anos que estamos fora de Portugal foram passados na América Latina, consigo identificar algumas dificuldades bastante evidentes. Embora venhamos de uma cultura latina, a realidade social da região está bastante afastada da realidade europeia.
A pouca celeridade com que se tratam alguns assuntos no meio corporativo, governamental ou até no dia a dia foi o mais difícil de entender no início.
Como segunda diferença, senti que, apesar dos portugueses serem um povo afável tendemos a demarcar as linhas entre os diferentes relacionamentos quando comparamos com a realidade no México, onde o peso de ter uma relação estreita e pessoal é muito forte.
Como último destaque, e sendo o ponto que ainda me custa compreender, é o de viver numa sociedade que sofre diariamente com tantas injustiças, crises sociais, entre muitas outras, mas que de alguma maneira viver com certa resignação a esta realidade.
Considero imperativo que não tenhamos a arrogância de pensar que a nossa cultura é melhor ou que temos o poder de mudar o sistema por nós mesmos, mas sim trabalhar na nossa capacidade de adaptação e integração às culturas locais, não criando exclusivamente ecossistemas de expatriados.
4. O que mais admira no país em que está?
Sem dúvida as pessoas, a história e a beleza natural do país. O México é um país com distintas realidade que, infelizmente, muitas vezes só recebe atenção pela parte menos positiva, como a insegurança e corrupção de algumas regiões.
É um país de 130 milhões de pessoas, com uma localização geoestratégica invejável e com uma política externa muito baseada em relações estáveis e duradouras com todas as regiões do mundo. Tem uma das populações mais jovens do mundo, sendo uma base muito sólida de talento STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), com uma taxa muito alta de formação superior em carreiras técnicas.
A riqueza cultural e natural do México continua a inspirar e a atrair milhões de turistas, todos os anos.
A economia mexicana é a 12ª a nível mundial e deverá continuar a crescer de maneira muito estável nos próximos anos, pelo potencial interno, mas, especialmente, pelo “near-shoring” com os Estados Unidos, representando grandes oportunidades de investimento para as empresas locais e estrangeiras.
O México possui um equilíbrio bastante interessante entre mão de obra muito qualificada e uma grande disponibilidade laboral de baixo custo, o que permite adiar investimentos em tecnologia e inovação.
Como tal, o México ainda está longe de atingir a maturidade económica de inovação, o que representa uma grande oportunidade para todas as empresas que estejam dispostas a investir e enfrentar esse desafio.
5. O que mais admira na empresa em que está?
A LHH é uma empresa que faz parte do Grupo Adecco, que é a maior empresa mundial de Recursos Humanos. Como tal, o mais importante é o nosso propósito de apoiar empresas a encontrar novos talentos, a desenvolver e a potencializar as suas estruturas atuais para enfrentar as mudanças e a competitividade de mercados, assim como oferecer a todos os executivos o apoio necessário para que possam encontrar o melhor projeto profissional e realizar os seus objetivos pessoais e profissionais.
Depois de 20 anos no setor, o que mais me motiva é o compromisso das organizações de representar o seu propósito, algo que acredito ser fundamental para todos os líderes e futuras gerações.
6. Que recomendações daria a Portugal e aos seus empresários e gestores?
Portugal tem grandes empresários e gestores que conseguiram criar importantes empresas, mesmo tendo um mercado interno limitado. A minha principal recomendação seria continuar a convidar as empresas a criar espaços seguros de inovação, onde os profissionais podem criar com autonomia e sem medo do risco.
Compreendo que, para muitas empresas em Portugal, é difícil um investimento de alto risco, tendo em conta que a grande maioria do tecido empresarial português é formado por pequenas e médias empresas. Contudo, existe uma disponibilidade incrível de talento em Portugal que temos de dinamizar internamente, evitando que abandonem o país.
Considero essencial o contínuo investimento no desenvolvimento de talento, porque, se tivermos a cultura correta, o resultado e o crescimento são inevitáveis.
7. Em que setores do país onde vive poderão as empresas portuguesas encontrar clientes?
O México é um país bastante aberto ao exterior, onde é relativamente fácil fazer investimentos devido ao elevado número de acordos comerciais. Sendo Portugal um país com uma base industrial relevante e com capacidades de engenharia reconhecidas em vários setores, deveria fazer parte de uma visão estratégica futura analisar investimentos no México.
Em 2023, o México ultrapassou a China como o principal país exportador para o mercado norte americano e continuará a crescer significativamente uma vez que 40% do investimento externo direto no país, em 2023, foi em novos projetos que ainda estão em fase de arranque.
Atualmente, apresenta um potencial de investimento em todos os setores de atividade, mas é importante mencionar que, pela dimensão das empresas e do mercado local, teriam de ser investimentos baseados, principalmente, em inovação e “know-how”, uma vez que são poucas as empresas portuguesas com dimensão para um investimento significativo de capital.
8. Em que setores de Portugal poderiam as empresas do país onde está querer investir?
Infelizmente, Portugal não aparece como mercado estratégico para o México. A ligação cultural com Espanha faz com que seja este o mercado natural de investimento mexicano na Europa. Contudo, existem casos bastante interessantes de investimentos, como foi o caso do Grupo Bimbo.
A proximidade com os Estados Unidos, sendo o principal mercado mundial, acaba por atrair a maioria do capital local. Contudo, é um mercado muito ávido por comprar produtos, serviços e tecnologia em outras regiões do globo, sendo uma clara oportunidade de negócio para as empresas portuguesas.
9. Qual a vantagem competitiva do país em que está que poderia ser replicada em Portugal?
As principais vantagens competitivas do México seriam claramente difíceis de replicar por que estão relacionados com o tamanho do país e do mercado local, em termos de consumo e mão de obra, assim como a localização geoestratégica com o maior mercado mundial que são os Estados Unidos.
O México, à semelhança de Portugal, tem investido muito na criação de cursos técnicos e tecnológicos que estão a atrair empresas que procuram mão de obra qualificada e competitiva. Tendo em conta este ponto, poderiam criar-se redes de colaboração entre os diferentes centros de excelência, de maneira a potencializar o desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente a nível industrial. Outra característica que vejo na região, que acredito poder ser positiva em Portugal, é a facilidade dos relacionamentos profissionais e acessibilidade de contactar executivos no mercado. Não existem tantas barreiras relacionais com os títulos ou hierarquia, o que leva a que o “networking” se dê de uma maneira muito orgânica.
10. Pensa voltar para Portugal? Porquê?
É, sem dúvida, um objetivo pessoal e familiar voltar a viver no nosso país. Temos 3 filhos que há 13 anos vivem na América Latina e, ainda que tenhamos feito questão de educá-los sob os nossos costumes, queremos que tenham a experiência de viver no país que é verdadeiramente seu.
A nível profissional, continuam a existir oportunidades bastante interessantes, principalmente por Portugal já ser uma base regional e internacional para algumas empresas.