30 de Abril de 2024

Entrevista com Luisa Fernandes, Conselheira do Núcleo Regional da América Latina (México) e Diretora Internacional do CAESP: Conselho Arbitral do Estado de São Paulo

“México tem potencial para fazer investimento produtivo”

Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.

1. O que a levou a sair de Portugal?

No meu caso particular, a minha experiência internacional começou com o desafio de acompanhar o meu marido, na sua carreira internacional, tendo tido o privilégio de ter trabalhado nos vários destinos onde vivemos, ao longo dos últimos 17 anos, desde Madrid, São Paulo, Bratislava e, agora, na Cidade do México. Após ter exercido 6 anos como Advogada no departamento de contencioso na Rui Gomes da Silva e Associados (em Lisboa), em 2007 iniciei aquela que viria a ser a minha carreira internacional no escritório Cuatrecasas Madrid, onde integrei as equipas de Direito Público e seguidamente a de Arbitragem Internacional, durante quase 6 anos, tendo-me permitido exercer advocacia em várias jurisdições: portuguesa, espanhola, brasileira e americana. Posteriormente, no seguinte destino, em São Paulo, viria a assumir vários desafios profissionais: tendo começado por integrar a equipa de contencioso e arbitragem do escritório CPBS – Cascione Pulino Boulos & Santos, exerci igualmente o cargo de Diretora Geral do Centro de Arbitragem da CCPB – Câmara de Comércio Portugal-Brasil e, posteriormente, na qualidade de Diretora Internacional, no CAESP – Conselho Arbitral do Estado de São Paulo desde 2016 até hoje.

2. Que vantagens ou desvantagens lhe trouxe o facto de ser portuguesa?

Nos vários países onde vivi e nos vários trabalhos que abracei, ser portuguesa abriu-me portas além-fronteiras, nunca tendo sofrido qualquer tipo de preconceitos. Pelo contrário, ser portuguesa permitiu-me uma integração fácil em todos os mercados de trabalho onde exerci a minha atividade profissional, nos diferentes continentes pelos que passei na minha trajetória. Viver em vários países, contatando, localmente, com várias culturas, fazem parte de um irrefutável enriquecimento pessoal e profissional, mantendo sempre, com orgulho, a nossa identidade e essência portuguesas – algo que pretendo transmitir desde sempre aos meus dois filhos ambos nascidos fora de Portugal, um em Madrid e outro em São Paulo.

3. Que obstáculos teve de superar e como fez?

O domínio da língua no exercício de atividade profissional num país estrangeiro assume de facto um papel importante. Enquanto vivi em Bratislava, na Eslováquia, a falta de domínio do eslovaco – língua eslava – foi um óbice ao exercício da minha carreira localmente. No entanto, pude trabalhar remotamente para o CAESP, desde Bratislava para o Brasil, e pude aproveitar a localização estratégica da cidade, situada no centro da europa, para poder cumprir com os desígnios do projeto de internacionalização da Câmara Arbitral na Europa a meu cargo, o que acabou por ser um privilégio e uma oportunidade. A localização cêntrica de Bratislava, permitiu-me conhecer muito de perto os países limítrofes Áustria, República Checa, Hungria,

Eslovénia, Polónia, Croácia, e as respetivas culturas profissionais. Muitas vezes um problema inicial acaba por se converter em uma oportunidade – foi o que sucedeu.

4. O que mais admira no país onde está?

Vivo na Cidade do México, com a minha família, há cerca de 1 ano e meio. É um país extremamente acolhedor, com um povo cálido, de uma simpatia ímpar, com uma cultura absolutamente fascinante pela sua diversidade e antiguidade, que se manifesta desde a sua arqueologia, música, arte, gastronomia e artesanato únicos, internacionalmente reconhecidos. Uma fusão de várias culturas, etnias, arquiteturas, cheiros e sabores em cada Pueblo Mágico que temos o privilégio de visitar. O México é um país verdadeiramente multicultural. A sua diversidade cultural é o resultado do encontro de diferentes grupos humanos ao longo da sua história, desde as culturas indígenas representadas pelas civilizações Maya, Azteca, Zapoteca, Olmeca, entre outras, que viveram no México na época pré-hispânica, até às culturas estrangeiras que migraram até ao país e aqui se enraizaram.

Tendo vivido previamente em Espanha e no Brasil, sinto a Cidade do México, pelo seu lado simultaneamente hispânico e latino americano, como uma simbiose perfeita entre a experiência que vivi em Madrid e em São Paulo, o que levou a uma adaptação muito rápida de toda a minha família, pelas similitudes.

5. O que mais admira na empresa ou organização onde está?

O CAESP – Conselho Arbitral do Estado de São Paulo é hoje uma das mais reputadas Instituições Arbitrais no Brasil, com 26 anos de existência, com uma dedicação e contribuição históricas aos institutos de Arbitragem e Mediação, com uma equipa e serviço de excelência, com foco na inovação e internacionalização da sua atividade. Desde 2017, o CAESP iniciou um admirável Projeto de Internacionalização da Câmara Arbitral na Europa, nos PALOP-Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e na América Latina.

6. Que recomendações daria a Portugal e aos seus empresários e gestores?

Que apesar dos seus desafios, os empresários portugueses considerem o México como um possível destino de investimento, pelo seu mercado potencial e capital humano, pois apresenta várias oportunidades de negócio. Na minha opinião, o México é um mercado ainda pouco conhecido pelas empresas portuguesas. O México é um dos países mais competitivos para o investimento produtivo a nível internacional, devido à sua estabilidade macroeconómica e política, níveis de inflação controlada, tamanho e força do seu mercado interno, taxa de crescimento econômico, e com excelentes cadeias de fornecimento. O México tem uma localização geográfica estratégica e privilegiada que permite uma porta de entrada para o mercado americano e conta com uma mão de obra qualificada e jovem. Por último, referir que o México conta com mais de trinta Acordos de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos com 33 países e doze tratados de livre comércio com 46 países.

7. Em que setores do país onde vive poderiam as empresas portuguesas encontrar clientes?

De um modo geral, existem várias oportunidades de negócio e investimento no México. Alguns dos setores onde as empresas portuguesas poderiam encontrar clientes no México poderiam ser, entre outros, Energia, Infraestrutura, Indústria, Componentes automóvel, Agroalimentar e Turismo.

8. Em que setores de Portugal poderiam as empresas do país onde vive querer investir?

Portugal, nos últimos 15 anos, tem vindo a consolidar-se, cada vez mais, como destino empresarial, sendo atualmente um verdadeiro atrativo para aqueles que pretendem aceder à Europa pela sua localização estratégica. Portugal tem desenvolvido vários programas atrativos para que as empresas se instalem, e tem desenvolvido igualmente setores emergentes como são o caso da tecnologia, turismo, energias renováveis, biotecnologia e start-ups. Além disso, Portugal oferece uma excelente qualidade de vida e é um país extremamente seguro.

9. Qual a vantagem competitiva do país em que vive que poderia ser replicada em Portugal?

A meu ver, são várias as vantagens competitivas do México, ainda que nem todas sejam passíveis de ser replicadas pelas características intrínsecas do país, como sejam a sua dimensão, a sua localização estratégica e a sua população extremamente jovem. No entanto, o México apresenta realidades inspiradoras como seja a de mão de obra jovem, com foco no trabalho e em muitos setores bastante qualificada, e conta com uma carga fiscal baixa que promove e incentiva o investimento.

10. Pensa voltar para Portugal? Porquê?

Sendo portuguesa, penso um dia voltar ao meu país. Entretanto e enquanto viver no estrangeiro, pretendo continuar a aprender em cada país e em cada cultura, mas incutindo sempre nos meus filhos a identidade e a cultura portuguesas.