Louis Vuitton, Hermès, Cartier, Vetements, J.W Anderson e Miroslava Duma reuniram em Lisboa para discutir o mundo dos objetos de luxo num tempo de mudanças culturais, económicas e políticas.
Pela primeira vez o jornal Finantial Times realizou o seu Business of Luxury Summit em Lisboa, nos dias 15 e 16 de Maio. “Mundo Material: artesanato, manufatura e novos mercados” foi o tema deste ano e trouxe a Portugal não só Nicolas Ghesquiére, da Louis Vuitton, mas também Jonathan Anderson da J.W Anderson e da Loewe, Axel Dumas da Hermès, Cyrille Vigneron, da Cartier, ou Miroslava Duma, do site Buro 24/7, a czarina da moda russa.
Mas trouxe também portugueses de sucesso no mercado de luxo como o chefe e membro do Conselho da Diáspora Nuno Mendes ou o fundador da plataforma Farfetch, José Neves e ainda José Manuel Durão Barroso, actual chairman da Golden Sachs, ex-presidente da Comissão Europeia e também membro do Conselho da Diáspora.
Um cocktail ao final da tarde nas ruínas do Convento do Carmo, no Chiado, ao som da voz de Salvador Sobral, deu não só o pontapé de saída mas também o mote: o luxo já não é o que era, quer chegar a novos públicos, novos mercados, quer trazer o futuro das novas tecnologias à herança ancestral das marcas e das culturas. O luxo entre os pixel-ecrãs e a mão humana. Eis o futuro.
Tendo como anfitriões Lionel Barber e Jo Ellison, respectivamente editor e editora de moda do Finantial Times, o Business of Luxury Summit começou o primeiro dia de trabalhos com o primeiro-ministro António Costa a elencar o potencial de Portugal para os mercados de luxo, a partir desta ideia paradoxal de “produzir o único numa cadeia de produção em série”.
A jornalista, ex- diretora da Vogue inglesa e actual editora de moda do Finantial Times, debateu com Ghesquière e depois com Jonathan Anderson a relação da moda com as novas tecnologias e a palavra que ressaltou destas duas conversas foi “conexão”. As novas tecnologias abriram caminho a novas formas de ligação, reduzindo as distâncias e acelerando o tempo que estão a mudar radicalmente o mundo da moda. Uma das mudanças é a cada vez menor necessidade de mediadores (como jornais e revistas) para a construção de relações directas com os consumidores e fazedores de moda através das redes sociais.
Outra das evidências é que os criadores de moda se tornaram estrelas da cultura pop como eram os cantores. A nova geração e as novas tecnologias fizeram explodir o culto dos objectos e dos objectos de luxo em particular. “Os criadores já não trabalham para um nicho, trabalham com uma visibilidade totalmente avassaladora e até disruptiva”, confirma Ghesquiére. Por outro lado, Anderson e Nuno Mendes, chefe do Chiltren Firehouse, em Londres, chamam a atenção para a importância de vender “objetos como experiência” e não como “coisas”. “Tudo tem que ter uma história, uma experiência de tempo, de acolhimento, de singularidade”, disse ainda Anderson.
Novas ligações entre as pessoas e os objectos, a necessidade de construção de uma experiência emocional sob cada bem material e a conquista de um tempo lento dentro desta vertigem do presente, em que, como referiu Jonathan Anderson, “ter uma hora de atenção para a nossa marca já é muito bom”, são algumas ideias deixadas desta primeira manhã de trabalhos.
Por Observador, Maio 2017