Licenciou-se em Engenharia Agronómica mas foi em Economia Aplicada que se tornou especialista. Com 25 anos de carreira ao serviço do Banco Mundial, Manuela Ferro é a vice-presidente de Políticas de Operações e Serviços de País daquela instituição internacional sediada em Washington, onde lhe compete a função de supervisionar as políticas corporativas em matéria de financiamento e serviços analíticos.
Formou-se na Universidade Técnica de Lisboa, onde também deu aulas como professora assistente e, durante esse período, trabalhou em estudos sobre o impacto da adesão no nosso país à União Europeia. Determinada e resiliente, decidiu candidatar-se à prestigiada bolsa de estudos Fulbright para o doutoramento em Economia Aplicada na Universidade de Stanford, na Califórnia. Por cá, tinham-lhe dito para não ter muitas esperanças, porque era raro concederem-na a portugueses, mas contra as estatísticas e o negativismo reinante, acabou mesmo por consegui-la. Em Stanford encontrou um ambiente académico que a fascinou, uma comunidade internacional de estudantes onde fez bons amigos que ainda hoje mantém, mas também o cheiro dos eucaliptos e pinheiros que lhe fazia lembrar Portugal. Foi lá também que conheceu o marido, um doutorando de origem belga que é hoje professor universitário numa das melhores universidades norte-americanas.
Quando terminou o doutoramento, em 1994, candidatou-se ao Banco Mundial, para onde entrou com funções técnicas, vencendo mais uma vez as estatísticas ao ser uma das 35 escolhidas entre mais de 16 mil candidatos. Trabalhadora e exigente, ao longo dos últimos 25 anos construiu uma sólida carreira na instituição, onde dirigiu as áreas de Redução da Pobreza e Gestão Económica no Médio Oriente e Norte da África, bem como de Estratégia e Operações do Banco Mundial para a América Latina e as Caraíbas. Liderou o lançamento das novas políticas sobre garantias, bem como a introdução das Operações de Política de Desenvolvimento de Catástrofes.
A viver em Washington há vários anos, confessa que um regresso à Europa está nos seus planos, mas os desafios que o Banco Mundial lhe coloca continuam a apaixoná-la e a dar-lhe um sentido de missão, que a mantém realizada.
Como é que uma engenheira agrónoma se apaixona pela Economia Aplicada?
Quando fiz o curso de Agronomia, fiz a especialidade de Economia e Sociologia Rural, por isso o interesse já vem de longe, apesar de estar mais ligado à microeconomia e economia rural. Estávamos na época da adesão à União Europeia. Antes de acabar o curso já fazia alguns trabalhos de investigação e análise do impacto da adesão à UE na agricultura portuguesa e aquilo de que se poderia tirar partido. Tinha algumas bases em Economia, mas com o trabalho percebi que não eram suficientes, por isso pensei em mudar de direção e aprofundar mais os meus conhecimentos. Nessa altura era muito difícil fazer um mestrado ou doutoramento em Economia vinda de outro curso. Hoje é muito mais fácil e as coisas melhoraram muito. Nos Estados Unidos, os doutoramentos têm uma parte curricular; têm-se aulas durante alguns anos até chegar à tese. Por isso, candidatei-me à Bolsa Fulbright, escolhi a Universidade de Stanford e, no fim da tese, a Fundação Luso-Americana também ajudou.
Durante todos anos no Banco Mundial, o que foi decisivo para querer ficar? Nunca pensou em procurar um novo desafio?
Penso muitas vezes. Há dois anos estive quase para me reformar do Banco e fazer outra coisa. Mas depois pensei que para começar a fazer outra coisa não se pode esperar muito. A vantagem que temos no Banco é que, quando mudamos de região, é como se mudássemos de trabalho. Mas estou numa fase em que não me importava nada de mudar de carreira e fazer uma coisa completamente diferente. Até pela curiosidade que sempre tive e por algum desejo de voltar à Europa. Não tenciono passar os meus últimos dias nos Estados Unidos.
Washington é uma cidade tão impessoal e de burocratas, como se diz que é? O que há de bom na cidade para uma executiva portuguesa?
Em Washington existe aquilo a que chamo as “necessidades básicas” e que são o merceeiro português, o vinho português… Temos um embaixador muito dinâmico, fantástico, e uma comunidade de estudantes portugueses, a PAPS (Portuguese American Post-graduate Society), que têm capítulos em várias cidades – faço parte do capítulo de Washington. É uma cidade internacional; não vivo exclusivamente na comunidade portuguesa, mas mantenho os vínculos com ela e com Portugal. Tenho muitos amigos lá. Apesar de virem de países diferentes, têm muito a ver com a minha maneira de ser. Vou ter sempre uma base lá, mas sinto-me europeia. Por isso penso aqui, na Europa, também é a minha base e que gostaria de contribuir mais uma vez para ela.
O que continua a apaixoná-la naquilo que faz ao fim de 24 anos?
O meu trabalho é muito interessante e a missão no Banco Mundial é muito relevante. Por isso realiza as pessoas. Gosto não só do trabalho, mas acho que é uma instituição que, não tendo sempre feito tudo bem, aprende. E isso tem muito a ver comigo.